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A suspens\u00e3o das aulas nas escolas ao redor do mundo tem por objetivo conter o ritmo da expans\u00e3o da pandemia de Covid-19. Segundo a\u00a0Unesco<\/a>, em 25 de mar\u00e7o de 2020, as escolas estavam fechadas em 165 pa\u00edses, incluindo o Brasil, o que afetava 87% dos estudantes do planeta. Essa medida dr\u00e1stica \u00e9 necess\u00e1ria, dada a gravidade da pandemia. Entretanto, ela provavelmente ter\u00e1 consequ\u00eancias sobre as aprendizagens e as desigualdades escolares.<\/p>\n Podemos formular hip\u00f3teses sobre essas consequ\u00eancias, apoiando-nos em pesquisas emp\u00edricas que investigaram os efeitos de longos per\u00edodos de interrup\u00e7\u00e3o das atividades escolares sobre as desigualdades de aprendizagem entre estudantes de diferentes grupos sociais. Alguns desses trabalhos est\u00e3o apresentados na pesquisa \u201cEduca\u00e7\u00e3o, Pobreza e desigualdades\u201d<\/a>, dispon\u00edvel no Portal IDeA.<\/p>\n Destacamos as conclus\u00f5es de dois artigos norte-americanos que analisam conjuntos amplos de pesquisas dedicadas a investigar os impactos das f\u00e9rias de ver\u00e3o sobre o desempenho em leitura e em matem\u00e1tica de estudantes de diferentes grupos sociais. O primeiro \u00e9 a meta-an\u00e1lise feita por\u00a0Harris Cooper e colaboradoras<\/a>, publicada em 1996. O segundo \u00e9 o balan\u00e7o produzido por Richard L. Allington e Anne McGill-Franzen<\/a>, publicado em 2003. Segundo esses trabalhos, a literatura analisada destaca dois resultados gerais. Em primeiro lugar, durante as longas f\u00e9rias de ver\u00e3o americanas, o grupo das crian\u00e7as de n\u00edvel socioecon\u00f4mico mais baixo sofre perdas maiores em seus n\u00edveis de profici\u00eancia do que o grupo das crian\u00e7as de n\u00edvel de socioecon\u00f4mico mais alto, um grupo que, em certos casos, mant\u00e9m os seus n\u00edveis de profici\u00eancia ou at\u00e9 os aumenta ligeiramente. Em segundo lugar, quando se analisou a varia\u00e7\u00e3o nas desigualdades de aprendizagem durante o per\u00edodo letivo, do in\u00edcio do outono ao fim da primavera, constatou-se que essa varia\u00e7\u00e3o era menor do que a encontrada durantes as f\u00e9rias de ver\u00e3o ou mesmo, em situa\u00e7\u00f5es particulares, inexistente.<\/p>\n A explica\u00e7\u00e3o para esses resultados converge para dois mecanismos. O primeiro \u00e9 a diferen\u00e7a no modo como diferentes classes sociais fazem uso do tempo livre, pois enquanto o grupo social de n\u00edvel socioecon\u00f4mico mais alto tem pr\u00e1ticas culturais mais pr\u00f3ximas da vida escolar, o grupo de n\u00edvel socioecon\u00f4mico mais baixo tem pr\u00e1ticas culturais mais distantes da vida escolar. O segundo \u00e9 o papel da escola, decisivo para que o grupo de menor n\u00edvel socioecon\u00f4mico tenha acesso \u00e0 cultura que ela transmite.<\/p>\n A produ\u00e7\u00e3o cient\u00edfica mais recente sobre o tema confirma, grosso modo, essas conclus\u00f5es, como \u00e9 o caso do artigo de\u00a0David Quinn e colaboradores<\/a>, publicado em 2016. Parte da literatura recente, ainda, se dedica a investigar resultados de interven\u00e7\u00f5es que buscam mitigar as desigualdades produzidas durantes as f\u00e9rias de ver\u00e3o. Alguns desses trabalhos tamb\u00e9m est\u00e3o apresentados na pesquisa\u00a0\u201cEduca\u00e7\u00e3o, Pobreza e desigualdades\u201d<\/a>, dispon\u00edvel no Portal IDeA.<\/p>\n Para o caso brasileiro, n\u00e3o h\u00e1 pesquisas sobre as consequ\u00eancias de longas interrup\u00e7\u00f5es das atividades escolares sobre as desigualdades de aprendizagem. Assim, n\u00e3o \u00e9 poss\u00edvel estimar qual ser\u00e1 o efeito, no pa\u00eds, da suspens\u00e3o das atividades escolares em curso, por causa da pandemia de Covid-19, sobre as aprendizagens e as desigualdades entre grupos sociais.<\/p>\n Entretanto, a literatura norte-americana sobre as desigualdades de aprendizagem produzidas durante longos per\u00edodos de interrup\u00e7\u00e3o das aulas apresenta evid\u00eancias inequ\u00edvocas que devem ser levadas em conta, seja na compreens\u00e3o do momento presente, seja na formula\u00e7\u00e3o das a\u00e7\u00f5es que ser\u00e3o tomadas quando as aulas puderem ser retomadas. A escola importa e, sem ela, as desigualdades de acesso aos saberes escolares aumentam; afinal, na aus\u00eancia da escola, as diferen\u00e7as de acesso \u00e0 cultura escolar que s\u00e3o devidas exclusivamente aos grupos sociais atuam intensamente, tornando ainda maior a desvantagem dos grupos culturalmente mais distantes da escola.<\/p>\n Refer\u00eancias<\/strong><\/p>\n Allington, R. L., McGill-Franzen, A.. (2003) The Impact of Summer Setback on the Reading Achievement Gap. The Phi Delta Kappan, Vol. 85, No. 1 (Sep., 2003), pp. 68-75.<\/p>\n Cooper, H., Nye, B., Charlton, K., Lindsay, J., & Greathouse, S. (1996).\u00a0The Effects of Summer Vacation on Achievement Test Scores: A Narrative and Meta-Analytic Review. Review of Educational Research, 66(3), 227\u2013268.<\/em><\/p>\n Quinn, D. M., Cooc, N., McIntyre, J., & Gomez, C. J. (2016).\u00a0Seasonal Dynamics of Academic Achievement Inequality by Socioeconomic Status and Race\/Ethnicity. Educational Researcher, 45(8), 443\u2013453.<\/em><\/p>\n